domingo, março 6

O fim da bicharada

 

Feliz aquele que não quer ouvir que a Terceira Guerra Mundial já começou, e ao contrário das antigas esta vai ser sem armas, sem bombas, uma guerra "pacífica" em que as vítimas assustadas se fecharão em casa, até que lhes digam que o perigo vai a passar. É ter paciência e ficar quieto, seguir as instruções.

Entretanto ir-se-ão enterrando os mortos, mas só se cuidará dos vivos precisos para os serviços e  bem-estar dos que detêm o poder, e daqueles a quem dão protecção, a nomenklatura: os cientistas domesticados, os jornalistas amestrados, os políticos comprados para organizar simulacros de governo, e o que for necessário de Gestapos, para manter no bom caminho os que teimarem na dissidência e na oposição.

Nos ecrãs dos computadores, telemóveis, televisões, tudo será doçura, caras sorridentes, belas paisagens, famosos a jurar que nunca se pôde apreciar assim a harmonia do mundo e estão para breve deliciosos amanhãs.

Todos aprenderão o grave risco de falar livremente, que o Big Brother não é uma ficção de Orwell, mas uma omnipotente, omnisciente engrenagem que até os pensamentos e as intenções adivinha, e de imediato comunica a quem interessa.

Deixará de haver noícias sobre ameaças, porque quem manda não aprecia más novas. E pode parecer contraditório, mas a nova forma de guerrear aprecia o sossego. Por isso calados e quietos é o melhor, que por um nada se perde o subsídio, embora este só seja garantido aos obedientes e com prazo.

Sem tiros, zero destruições, os povos definhando com pandemias, as cidades desertas. Aqui e ali haverá ilhas de luxo e conforto onde tudo é felicidade, vigor, abastança. Um mundo de pós-guerra, o planeta finalmente livre da bicharada que, imparável no fornicar e no exigir, estava a chegar aos oito biliões.