Dão pena, porque talvez merecessem melhor destino, pois se lhes podem apontar algumas qualidades, mas para azar seu os deuses arranjam por vezes tão rebuscadas maneiras de punir, que os infelizes nem se dão conta de serem eles próprios a origem do tormento.
A alguns mete-se-lhes na cabeça que o seu destino e fama estão na Literatura, desatam a criar com a sanha de Simenon, que em três tempos escrevia um policial. Os deuses observam, sorriem, deixam andar, dão-lhes rédea larga, estendem o engodo malicioso de palavras esperançosas aqui e ali. Para já não é a fama, só um bom auspício, e a generosidade dos amigos que não lhes regateiam os parabéns também ajuda.
De súbito, contudo, faz-se neles e à sua volta uma estranho vazio, têm ideia de que o mundo os esqueceu, o mundo a que nunca tinham pertencido e era apenas a miragem com que os deuses se tinham divertido a acenar-lhes. Não vão, porém, os moradores do Olimpo julgar que eles desistem. É o desistes! Nunca serão um Simenon, mas cada mês ou dois sai romance, e se já não os mandam aos editores anunciam-nos aos conhecidos, criando assim aquela fama paroquial que nos meios pequenos iguala em perigo a faca de dois gumes.