Tinha de ser e talvez tivesse acontecido mais cedo não fosse a vontade de todos para evitarmos atritos, sermos pacientes, adoptarmos por instantes o comportamento da ovelha, dizermo-nos que isto passa. Mas para que a discórdia rebentasse bastou um pequeno nada, a notícia de que um grupo de cidadãos vai processar o Estado por atentar contra as liberdades garantidas pela Constituição. Começou então o afirmas tu, sei eu, disse o virólogo, garantiu o ministro, a enfermeira disse que isto não passa de uma gripe, mas que não, é quase tão perigoso como a peste bubónica ou o ébola, e daqui a nada…
Primeiro com os amigos, deles passou à família, aos vizinhos, aos colegas, estamos na fase em que ainda sorrimos mas essa é máscara de verdade, esconde a fúria e o desespero, a impotência, o medo de que contra o rebanho nada podes. Nas conversas ficamos pelo trivial, mas os subentendidos soam como gritos que só o desespero ouve, e para manter um resto da santa paz ainda fingimos, só não sabemos até quando. O que será será.