terça-feira, maio 24

Velho


Como nem todas as vidas são excitantes ou excepcionais, o risco de monotonia é grande, o que faz com que, para de algum modo nos defendermos, criemos hábitos e rotinas, se bem que não haja provas para a eficácia do método. E assim lá nos vamos arrastando, a dar os bons-dias, a dizer sim senhor, muito bem, o tempo sempre está melhor do que ontem, o padeiro não deve tardar...
Entre quatro paredes e as duas serras que são o meu horizonte, se tiro um almoço ali, uma saída acolá, a minha é uma existência de ramerrão, repetições que assustam, ideias  bizarras sobre a passagem do tempo, uma arreigada desconfiança das mudanças.
Felizmente não sou único, sinto-me apoiado quando um parceiro com os mesmos tiques começa queixar-se da monotonia, das pressas do mundo, ou a garantir que as frescas raparigas de hoje são os bebés do mês passado.
Retratado nele, meu semelhante, em vão pergunto onde se esconde o entusiasmo de antigamente. Quem é o estranho que me habita, e de certo modo agrilhoa a um viver parado? Que adianta envelhecer?