Essa inveja que lhe amargura os dias, essa raiva de fraco, a sua impotência de ser e fazer, o modo tolo, pretensioso - ao longo do dia será difícil pôr-lhe freio, mas de manhã, ao olhar-se ao espelho, não poderia você conseguir pelo menos um minuto de calma e dizer-se: não preciso ser tão pulha, tão venenoso, isto dá cabo de mim.
Era um começo, poupava-se e evitava ao mundo o espectáculo que dá, esse azedume por tudo, das ervas do quintal aos mandarins da política, dos tiques da sua cunhada aos chapéus da rainha da Inglaterra.
E depois, aqui entre nós, que sabe do mundo? Tem bagagem que lhe permita, mesmo ao de leve, seguir os cérebros que realmente contam e mudam as nossas vidas?
Você, caramba, nem de futebol sabe! E sobre aquela pretensão de que é homem lido, estamos conversados: ouvi-lo falar de livros é debruçar-se a gente sobre o abismo da ignorância.
Fora a inveja, a raiva, a impotência e o modo tolo, nada em si é genuíno, ouro de lei, a ponto que às vezes me pergunto se será pessoa ou apenas uma sombra maldosa.