Oiça, é consigo. Sim, consigo. Tem você também daquelas manhãs em que, mau grado o azul do céu e o brilho do sol, tudo lhe parecem sombras?
De certeza tem. Eu tenho. Horas de contrariedade, longas horas a repisar o como foi, o que poderia ter sido, o que nunca é. Pensamentos que se entrechocam como ondas de temporal. Memória dos momentos negros, dos becos sem saída, temor dos precipícios em que outros já se despenharem. O que se perdeu e se teria recebido, não fosse a cobardia, o medo de arriscar.
Manhãs feias e de contradição. Manhãs que começam antes da aurora e se arrastam envoltas na fuligem do passado.
Oiça, digo que é consigo, mas é também comigo, com os que guardam no peito os gritos surdos da raiva e do desespero, e procuram alguém que os queira ouvir.
Oiça. Não faça caso. Desculpe. Desejo-lhe um dia bom.