Publicou o seu primeiro romance, teve algum êxito, de toda a parte recebe encorajamentos e, lá da Holanda, comunica-me a sua perplexidade, quer saber se alguma vez me aconteceu o mesmo.
Dá-se o caso que, pelo menos de aparência, escreveu ele o que noutros tempos se chamava um roman à clé, um daqueles em que personagens e lugares se prestam a confusão sobre o real e o fictício.
Relativamente jovem, vai nos trinta, com a sua simpatia e temperamento extrovertido tem abundância de amizades e relações. Mas com o êxito literário, o que deveria ser benesse confessa ele que se lhe tornou um aborrecimento. Dizem uns: aquele personagem sou eu chapadinho e francamente não apreciei. Outros queixam-se de não se reconhecerem em personagem nenhum, deve ser porque o autor nunca os achou interessantes. Com amantes e namoradas acontece-lhe o mesmo: esta insulta-o pelas supostas revelações da intimidade e acrobacias do Kamasutra, aquela pergunta-se que motivo o terá levado a esconder o que tinham feito na cama.
Que recorde tenho escapado a aborrecimentos desses. Se bem que, tendo escrito um romance sobre um amador de Lolitas, aconteceu-me algumas vezes...
Paro aqui. Um blogue é praça pública, não se presta a confidências.