Porque um foguetão os viria buscar, um profeta lhes disse, os cálculos os convenceram, ou uma voz segredou ao guru que o fim estava próximo, perdi a conta das vezes em que os suicídios colectivos me surpreenderam.
Surpresa tive-a também nos anos 70, quando vizinhos e amigos, gente de juízo e aparentemente equilibrada, se puseram a cavar abrigos anti-atómicos nos quintais, achando pouca graça a que eu zombasse da seriedade com que se abasteciam de pilhas para o rádio, água mineral, comprimidos de vitaminas, foguetões e roupa quente.
A novidade escapou-me, pois pelos jeitos a notícia é de há tempos e eu só soube dela pelo jornal de hoje: o mundo vai acabar em 2012, e desta vez não é ilusão, falsa promessa ou tolice: acaba mesmo. Há cálculos e provas irrefutáveis: o calendário dos Mayas termina a 21 de Dezembro de 2012 e os egípcios da antiguidade fizeram previsões idênticas. Além disso parece que está também na Bíblia: “o número 666 refere-se a uma irregularidade do ciclo solar, a qual será causa do apocalipse que se aproxima.”
Vamos ter tsunamis com quilómetros de altura; o nosso planeta rebolará, invertendo os pólos; por toda a parte explodirão vulcões; na crosta terrestre vão abrir-se fendas… Só escaparão aqueles que tiverem dinheiro bastante para se juntar ao grupo, já existente, que procura um território montanhoso, sem centrais nucleares na vizinhança.
A senhora na fotografia vêmo-la sentada sobre a jangada que comprou para se salvar, dentro da qual há um “saco para sobrevivência, composto de pacotes de água mineral, foguetões e fatos-macaco de material isolante". (*)
Sabia lá eu! Há sites para adquirir o necessário, por exemplo http://www.2012supplies.com/. Fui ver e encontrei nele o calendário que vai descontando o tempo, e me pôs ao corrente de que faltam 1643 dias e 15 horas para o fim do mundo. Nem mais, nem menos.
(*) A novidade (para mim), alguns dos detalhes e a fotografia devem-se ao jornal holandês de Volkskrant, de 21.06.2008.