À cautela, de maneira a que não haja engano, ou quem isto lê me suponha fraco da cabeça e falho de entendimento: ao afirmar que sempre fui andarilho uso a palavra no sentido antigo, o do indivíduo que não somente anda muito, mas o faz por gosto.
Pode ser genético, dado que os das gerações que me antecederam, se tinham burros ou mulas poupavam antes a força dos animais do que a própria, já que esses eram muitas vezes o seu único capital.
Herdado ou não sempre gostei de andar, e guardo um bocadinho de vaidade pela proeza de, a festejar os oitenta, ter feito a pé a distância que separa o Pocinho da minha aldeia, Estevais de Mogadouro – não os quilómetros lisos da estrada, uns cinquenta, sim bastante mais, com as voltas e revoltas a subir e descer montes, uma ou outra vez errando o caminho.
Recordei a “valentia” desse feito dias atrás, quando o acaso me levou a ler um texto em que era questão das vantagens e benefícos da marcha a pé. Não só físicos mas também mentais, espirituais, e até de vários modos higiénicos. Eram citados os inevitáveis especialistas que, cada um à sua muito especializada maneira, detalhavam a científica e quase obrigatória necessidade de caminhar. Porque não somente se fortalecem os músculos e o esqueleto, mas o organismo inteiro leva como que uma muito benéfica revisão.
Asseguravam também que uma caminhada, definitivamente resulta num estado de espírito que diminui a tensão do cérebro, e o simples desviar os olhos para as florzinhas numa valeta, o voo de um pássaro, a imponência de uma árvore, basta para quebrar o círculo vicioso das preocupações e medos que em tantas horas nos afligem.
Talvez assim seja, mas comigo nunca resultou.