Culpa tenho eu, bem sei, deste
desalento que me empurra para
a solidão e entristece, o desejo de evitar o semelhante, o repisar de
momentos que afinal não foram como pareciam, de amabilidades e
sorrisos que, ao recordá-los, surgem com expressão diferente, o afas-
tamento revelando a máscara, pondo a descoberto a grima, o aze-
dume, a falsidade, a cobardia.
no dia-a-dia correspondemos mal à imagem que mostramos
ou à que do semelhante desejamos ver. Contudo, não haveria aí em-
peno, tanto nos habituamos ao teatro que a vida é, e em cujo palco
somos razoavelmente capazes de representar o papel que ela exige,
que de nós esperam, ou a que nos obrigam.
Do que não nos curamos, pelo menos eu não me curo, é da in-
capacidade de nos protegermos de nós próprios, de escaparmos àque-
le que no íntimo, guardião permanente, nos impede de esquecer e de
enfeitar.