Nunca fui de medos, mas agora sou por lei obrigado a temer o meu
semelhante, fugir dele se se aproxima, achá-lo perigoso e nojento quando por
acaso tosse ou espirra.
Depois do estado de emergência
virá o de calamidade, outros seguirão, e quando for ao restaurante vão-me
obrigar a lavar as mãos – será que eles
nunca as lavam? – vão-me medir a temperatura, o restaurante mais chique passa a self-service,
o pessoal não se aproximará, mesmo acautelado com luvas e máscaras.
Outras proibições e impedimentos
hão-de vir, porque eles lhe tomaram o gosto, descobriram que nada põe o Zé Povinho
tão depressa de joelhos, calado, sem vontade de refilar, como o medo da
infecção.