Indo por partes: o mundo não é um
lugar seguro, mas com o amparo da família, dos amigos, das leis, da polícia, a
cautela precisa e algum senso comum, a maioria, se não um grande número, consegue
sobreviver e aguardar em paz o último suspiro.
Todos sabemos também que já antes
do aparecimento do Antropos erectus o forte dominava o fraco, situação
que nem as religiões conseguem eliminar, não está nas promessas da inteligência
artificial e vamos aceitando como uma fatalidade.
Um triste exemplo do forte sobre o
fraco vem de longe, a prática de muitos povos primitivos que se livravam dos
anciãos, uns cruelmente e à bruta atirando-os para os despenhadeiros, outros
poupando-se a trabalheira ao deixá-los num ermo, de modo a que abandonados e débeis se finassem sem incomodar.
De acordo com as posses, as
famílias que hoje em dia não querem aturar os seus pais e avós, porque estão
sempre doentes, têm birras, mau feitio, ou com a sua fraqueza são um tropeço,
dispõem de vários meios que lhes permitem salvar as aparências e livram da
acusação de crueldade.
Entrando agora no assunto: estava
eu ontem em santa paz a ler o jornal holandês de Volkskrant, quando os
olhos me caíram num título que pedia atenção: “Os jovens que hoje se queixam
dos idosos serram o galho onde eles próprios estão sentados”.
Continuei a ler e abriu-se-me a
boca, porque há polémica e eu, distraído, não tinha dado por ela. Pelos jeitos
esta juventude do clima, das verduras, do ar puro, dos vários géneros, cores,
raças, manias e tanto mais, acordou agora para a realidade de que aos idosos
deve ser retirado o direito de voto, pois tendo pouco tempo de vida o seu voto
não deve poder influenciar a vida dos jovens.
Também é culpa dos velhotes o drama
climático, pois há eternidades que andam de carro, de combóio, avião, querem
continuar a gozar dos perigos que os seus trisavós criaram com a Revolução
Industrial, a comer carne, e com o seu desleixo, poucas forças e estupidez contribuem
para esgotar o planeta. Fora com eles, que a manjedoura não chega para todos.
Quando era rapaz Frank Zappa
cantava que os maiores de trinta anos deviam morrer, mas ele próprio chegou aos
cinquenta e três. Eu sinceramente faço votos para que esta rapaziada viva ainda
mais tempo do que eu, e lhes caiba a espécie de activistas que merecem pelo que
hoje pensam e exigem.
Não sabem nem querem saber, mas quem
as faz paga-as, como continua válido que filho és pai serás.
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