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Pode ser da chuva, que há dias cai com um cinzento da Lapónia, misturada com o que aqui se chama natte sneeuw (neve molhada), um fenómeno mais capaz de criar sombras na alma do que o nevoeiro cerrado. Pode ser ainda que seja desta minha inata insatisfação que, por ter sonhado muito, me leva a esquecer os momentos felizes e a aumentar o desgosto que causam as miudezas do dia-a-dia.
Também se dá o caso que, ultimamente, não tenho
correspondido às amizades com a benevolência de espírito que nos torna companhia
agradável.
Ando azedo. Sugeri atrás que a chuva pode ter a ver com o meu estado
de alma, mas no fundo sei que assim não é, reconheço de sobra que o aborrecimento
me vem mais das situações em que não posso ser franco, gasto tempo a rendilhar
frases, quando a minha vontade seria dizer a verdade nua e crua.
É facto, ando azedo, sinto-me hipócrita, e esta neve molha
mais do que a chuva. Que saudade tenho de quando, em tardes assim, corria para
o De Pilsener Club e lá ficava até que
a genebra e a companhia aclarassem o céu e a minha alma.