Aos quinze anos a primeira namorada, a descoberta das carícias, das tremuras pelo corpo, a febre, os arrepios, o primeiro beijo.
Dias depois, a fumar num banco de jardim,
ela disse aquilo com a naturalidade, o sorriso e o modo desprendido de quem assinala uma
ninharia:
- Não sabes beijar.
O verdadeiro choque viria mais tarde, mas de momento
atirou com o cigarro, puxou-a contra si, como se quisesse grudá-los apertou
os lábios contra os dela, ficaram assim até que a rapariga, zangada e estrebuchando,
se libertou.
O boato tinha corrido, e das namoradas que
a seguir teve, se uma ou outra se mostrou discreta, as mais não demoravam a
censurar-lhe a ignorância e a falta de jeito.
Quente do sangue, caridosa de feitio, Luísa, mais velha um ano, mais alta um palmo, chamou-o uma tarde para um sessão
de apalpões e, agradecida, disse que lhe ia ensinar como se beijava.
Ensinara uma dúzia de vezes, mas foi pena
perdida, o trauma ficou. Com o correr do tempo, estrangeiras engatadas na
praia, às vezes colegas, ligações de acaso, bar
flies, acompanhantes para matar a solidão nas noites de hotel, mesmo as que
se calavam lho faziam sentir, afastavam os lábios, algumas escondendo discretamente o desagrado.
Já lhes tinha nascido o segundo filho
quando uma noite, ambos a ver na televisão um filme em que Gwineth Paltrow era
lenta, mas fogosamente, beijada pelo comparsa, é que a mulher, acendendo outro
cigarro, o encarou sorrindo e disse:
- Este sabe beijar.
- E eu não sei?
- Não, querido. Não sabes - e num gesto carinhoso tinha-lhe passado o braço
pelo ombro, depois fora buscar mais gelo, enchera de novo os copos.