Há vezes em que de nada adianta o azul do céu e o chilreio dos pássaros, vai-se o pensamento para situações que seria bom esquecer mas a memória traz à tona, acordando as palavras, os rostos, as falsas promessas, os motivos que pareciam rectos e vistos a outra luz surgem oblíquos, estranhos como carantonhas.
À noite leio Danúbio, o livro de Claudio Magris, cheio de belas descrições, ideias elevadas, frases daquelas que obrigam a uma pausa, tanto elas nos tocam. É como atravessar um porta singela e descobrir com assombro que se penetrou num monumental e maravilhoso museu de gentes e civilizações.
Grande, muito grande, é a diferença entre a beleza dessa leitura nocturna e as mesquinhices que a recordação aviva ao amanhecer.