Está a chegar aos cinquenta e tem aquele aspecto que, mau grado o sermos todos diferentes, se costuma designar por comum. Nem alto nem baixo, mediano em quase tudo, seja ele opiniões, comportamento, futebol, política e o resto. Livros não lê, de cinema e música gosta assim-assim. Entrou uma única vez num museu, mas logo se despediu, “porque aquilo era tudo uma bonecada.”
Uma coisa, porém, o distingue: o êxito que sempre teve junto das mulheres. Logo na adolescência as mais bonitas corriam para ele como atraídas por um imã, e esse inexplicável magnetismo continua, resultando ocasionalmente em ligações de pouca dura a que ele próprio põe fim.
- Nunca fui de prisões. Gosto da minha liberdade e respeito a dos outros, agora num casamento…
Em geral a conversa prossegue com os conhecidos prós e contras do matrimónio, mas dias atrás, como para reforçar o seu ponto de vista, apareceu ele com uma estatística, na qual se afirmava que trinta porcento dos recém-casados, meio ano após o casamento se arrependem do passo e preparam o divórcio.
Fez-se entre os que ali estávamos um silêncio incómodo, mas por fim retomou ele o assunto:
- Digo-o muitas vezes: a receita é simples. Uma mulher quer servir nas coisas grandes e ser servida nas pequenas. Sacrifícios e dedicação é com elas, mas querem atenções e flores, cumprimentos, rapapés, e isso é que a maioria dos sujeitos não compreende.