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Mais uma vez fui ontem a São Salvador do Mundo, o lugar de peregrinação e romaria entre São João da Pesqueira e o rio Douro. É imponente aquilo, mas precisa de boas pernas quem quiser fazer a subida até às ermidas do cume. As minhas ainda aguentam. Às reviravoltas, detendo-me aqui e ali a absorver a paisagem, a espreitar nas capelinhas, a beber goles de água, e a acalmar as pulsações, lá cheguei ao alto.
Soberba paisagem onde destoava, atracado à margem esquerda, um daqueles barcos que trazem os turistas rio acima.
Comecei a descida com mais vagar e cuidado do que à ida, porque o piso, tosco como convém a um ermitério, facilita o escorregão. Sentei-me depois no carro a gozar o momento de descanso, as portas abertas para que a aragem corresse.
Foi então que os turistas chegaram. Três autocarros deles. Ingleses,franceses, alemães, de aparência todos perto dos cem, todos em avançado grau de fragilidade e osteoporose, todos pitorescamente vestidos de calções e logo a fotografar.
O cortejo passou com vagares de caracol, deteve-se junto dos primeiros degraus, e ali se ficou num extraordinário silêncio. Palavra nenhuma, nem sequer uma tosse, um pigarro.
O chofer veio para mim, forçudo, o modo e o cheiro do charro a trair o à-vontade de homem de noitadas e borga.
- Estrangeiros! – informou ele à sobreposse, o queixo a apontar o grupo imóvel. – Digo-lhe uma coisa, se se metem por ali acima vai haver mortes. A semana passada...
Mas nesse momento um colega tocou o claxon e ele virou-me as costas. Os anciãos, como se aguardassem o sinal, fizeram lentamente meia volta, as solas a arrastar, os braços afastados do corpo, dando a impressão de que temiam perder o equilíbrio.