Camposancos. Vê-se daqui da praia, porque fica do outro lado, defronte de Caminha.
Tempo do meu passado. Quando conhecia a palmo ambas as margens do rio, que ambas tinham sido para mim o cenário das emoções memoráveis da juventude. O primeiro amor de adolescente, a primeira fuga, as travessias do rio nas noites sem lua, que fazíamos pelo gosto do perigo, sabendo que do lado espanhol, e mais por divertimento que por zelo, os homens da Guardia Civil não hesitavam a atirar a sério.
Camposancos. Ainda hoje sou capaz de ir direito à casa de Don Ignacio, o bondoso cura que nos dava maçãs do seu passal - “Se não as dou, vêm-mas roubar!”- e infalivelmente queria saber se tínhamos ido à confissão, se não esquecíamos a comunga.
Recordo também Don Francisco, o padre de Goián, mais novo, magro que nem uma garça, passeando a ler o breviário na estrada onde só de longe a longe aparecia um carro.
Açulados que nem matilha de cães com cio, quando nos cruzávamos víamo-lo fazer no ar um sinal da cruz faceto, talvez tanto para nos abençoar, como em exorcismo às tentações com que o atormentava o Demo, e mais tarde fariam dele um assassino.
A serração de Tabagón. Uma chaminé que se vê de quilómetros ao redor, e para mim era um duplo farol: na grande casa anexa viviam Don Ramón, meu herói, e Rosalia, a irmã mais nova, dezasseis anos como eu, mas infinitamente mais sabida, e que, maldosa, atiçava na minha alma e no meu corpo as grandes labaredas da paixão.