sábado, janeiro 28

The New Rulers of the World

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É de 2002, mas tão actual e, como escreveu The Sotsman: "This is a book to spoil any westerner's weekend."

Em apêndice, uma citação de Martha Gellhorn (1908-1998):

"Citizenship is a tough occupation which obliges the citizen to make his own informed opinion and stand by it."

sexta-feira, janeiro 27

Donald Trump


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Uma excelente trabalho do Washington Post .

quarta-feira, janeiro 25

Santa Apolónia

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Era outro assunto, mas a frase escapou-lhe e a confidência veio assim, um desabafo inesperado, a melancolia de mistura com o desalento e as decepções da maternidade, da vida de casada, da juventude perdida, do suceder monótono dos dias.
Domingo de manhã. Sete e meia. Acordaram e continuam imóveis, os corpos não se tocam, um instante depois ele levanta-se, espreguiça-se, sai do quarto. Ela abre os olhos. Incomodada pela claridade do dia volta a cerrá-los, imita mentalmente o tom com que ele anuncia sem a encarar: - Vou ver os miúdos.
Claro que também ela ama os pequenitos, sofre com os achaques, se assusta com as pontas de febre, as tosses, aflige-se quando não comem ou os vê chorar sem razão que adivinhe. É mãe, sente-se mãe, mas foi sendo subtilmente empurrada para fora do território onde o Alberto e a sogra dispõem e regulam.
Estranha metamorfose. Era todo de desporto e festas, mas ao tornar-se pai quase que de um dia para o outro se transformara num ser quezilento, preocupado com ninharias. Ele, que nunca tinha levantado um dedo, lavava agora a loiça, limpava o pó, arranjava os armários, acomodava a roupa, ia ao supermercado, mudava as fraldas, preparava as papas, ouvia-o combinar com a mãe, aos risinhos, idas à praia, passeios ao Zoológico.
- No sábado vamos ao Cirque du Soleil. Dizes sempre que detestas circos, se calhar não queres ir. Ou queres?
Respondia-lhe com um aceno e pegava nos cigarros, saía para a varanda, os miúdos a bater nas vidraças, ele, paciente e muito pedagógico, a explicar que o tabaco era um veneno, teriam de esperar até que a mamã apagasse aquela porcaria.
Ouve-o entrar no quarto de banho. Era diferente, mas tornou-se homem de hábitos e a manhã de domingo é hora de sexo.
Ela própria se surpreende da rapidez com que se veste. Apanha a mala, leva os sapatos na mão, ouve os filhos a rir de qualquer coisa que a sogra cantarola. Fecha a porta sem ruído e não espera pelo ascensor, desce as escadas a correr. Olha o relógio num automatismo. Oito e vinte.
No táxi hesita um momento, mas logo decide:
- A Santa Apolónia, se faz favor.

terça-feira, janeiro 24

Tudo depende

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Uma companhia de transportes holandesa  recusou emprego a um chofer islamita, depois deste ter declarado que não apertaria a mão de colegas femininas, dado que a sua religião  lho proíbe.
Recorreu para o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos, instância que se celebra pelas posições politicamente muito correctas das suas sentenças, e como era de esperar este deu-lhe razão.
Agora que as eleições se aproximam, o primeiro-ministro Mark Rutte (foto) veio ontem declarar que a sentença era estapafúrdia, que quem vive na Holanda tem de respeitar as leis e as normas do país, caso contrário é ir de volta para donde veio.
Por ter perguntado numa reunião eleitoral, num café, se os presentes queriam mais ou menos marroquinos na Holanda, Geert Wilders  foi o ano passado levado a tribunal, acusado de apelar ao racismo e à discriminação.
Não são dois pesos nem duas medidas, tudo depende de quem o diz, não do dito. Também se pode deduzir que, com as eleições à porta, dá jeito mudar de casaca, e deitar mão aos argumentos dos “racistas”.

segunda-feira, janeiro 23

Ar puro e carro seguro são luxos de rico

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A vida ensinou-me a ser cauteloso em matéria de certezas, sobretudo quando apregoadas pelos que, inchados da própria competência, não hesitam em afirmar como se endireita a política e se governa um país. Aliás, acerca de políticos, apenas dois continuam a merecer o meu respeito: o presidente Truman, que tinha na  secretária uma placa com a frase: The buck stops here ( A responsabilidade é minha); e Pierre Mendès-France , " uma referência, e símbolo de uma concepção exigente da política".
Temos agora o presidente Trump, que assanha atrizes, costureiros, activistas, e bem pensantes, ao mesmo tempo que uma massa de "seres desprezíveis" espera vê-lo endireitar o que outros deixaram torto.
No que me respeita, o personagem não desperta simpatia, mas devo conceder que o modo directo e a sua rudeza fazem um interessante contraste com a banalidade das afirmações dos políticos em geral, sejam eles estadistas, bonzos da EU, ou os moços de recados que chefiam ministérios.
De qualquer modo, e porque muitas das suas decisões a todos afectarão, vou seguindo as críticas que uns lhe fazem e as esperanças que outros nele põem, cuidando de não me deixar arrastar pelos argumentos dos que lhe são favoráveis, nem pela histeria dos oponentes.
Dei assim com uma entrevista de Edward Luttwak (1942), que foi consultar de Reagan e é agora assessor de Trump. Está longe de ser um comentador qualquer, pois os governos da China, Israel, Itália, Japão e várias multinacionais são clientes da sua consultoria. E concorde-se ou não, fala claro:
“Quando os media se referem a Trump é sempre questão de sentimentos de vingança e ódio, o que demonstra apenas arrogância intelectual. Do que realmente se trata é da redistribuição dos rendimentos, pois nos últimos vinte e cinco anos a deslocação da prosperidade da classe trabalhadora para outras classes, resultou numa mudança estrutural na sociedade americana. Um exemplo: a classe média exige carros muito seguros, o que obriga a satisfazer tantas regras que o preço médio de um novo é de 13.000 dólares. Metade dos americanos não podem pagar esse dinheiro, têm de conduzir carros em segunda ou terceira mão, e daí menos seguros. É como se para quem possui menos a segurança não conte.”
“O meio ambiente? Claro que somos todos a favor. Mas subsidiam-se os cientistas e as indústrias da energia solar e eólica, e fecham-se as minas de carvão, atirando dezenas de milhar de pessoas para o desemprego. Será então estranho que elas se revoltem?”


Se é demagogia, o tempo o dirá.

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Publicado na DOMINGO CM.