Arde nas labaredas do Inferno desde o Outono de 1940, o "Halteres", o sádico que nas aulas de ginástica nos deixava pendurados nas barras até que caíamos, gozava de nos ver trambolhar no trampolim, gargalhava se no salto perdíamos o equilíbrio e aterrávamos de costas.
Que o anjo das trevas continue a fritá-lo por séculos e séculos, ámen, e de vez em quando o espiche com água gelada, como ele nos fazia nos chuveiros do balneário no pino do Inverno.
Sempre de sobretudo, óculos defumados, as mãos atrás das costas, catarro, pele de tísico. E vá de assentar uma lambada neste, passar a outro uma rasteira, explicando com voz de fumador que não queria ali Mariazinhas.
- Agarra o trapézio, palerma! Despacha-me essas patas, ó urso!
Uma manhã, quando esperávamos por mais uma sessão de tormento, Nossa Senhora das Dores fez o milagre: vieram-nos dizer que estava no hospital e nunca mais o vimos.