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O sermos um país pobre e periférico põe-nos a salvo da
problemática da imigração massiva e dos refugiados, o que na Europa rica
têm por consequência uma acentuada clivagem na sociedade, resultando num
extremismo de sentimentos e opiniões de mau agouro.
Todavia, se as circunstâncias contribuem para que
escapemos a tão grande problema, outros há criadores de fossos que a todos
afectam. E esses são de tirar o sono a quem deles toma consciência, esteja o
cidadão no início da sua carreira ou carregue nos ombros a responsabilidade
pelo futuro dos filhos.
Para começar, espera-se que a curto prazo a
digitalização ponha fim a várias profissões técnicas e administrativas,
resultando daí que metade dos actuais estudantes do ensino secundário
profissional não irá encontrar emprego. Essa ameaça estende-se igualmente a
cursos universitários, como os de contabilidade, economia e semelhantes.
Rico ou pobre, nenhum país escapa ao fosso cada vez
mais acentuado entre a província e a cidade, esta sendo sinónimo de juventude e
dinamismo, enquanto aquela se distingue pela velhice dos habitantes, a falta de
recursos, a tendência dos governos em considerá-la um refugo e, no melhor, bom
local para instalar eólicas.
Maior do que nunca é a diferença entre as gerações.
Uma das características de mudança nos anos 60 foi a do chamado fosso
geracional, tendo a juventude passado a ser a norma, com os idosos a verem-se
relegados para um terceiro plano, tanto económico como afectivo e, no geral,
deixando de usufruir do respeito que até então lhes costumava ser devido.
É facto que o actual nível de vida não sofre
comparação com o de há cinquenta ou sessenta anos atrás. Porém, em todos os
países europeus se constata que os pobres se tornam cada vez mais pobres, ao
passo que os ricos não param de enriquecer. Desde 1995, segundo as
estatísticas, dois terços dos cidadãos europeus viram diminuir o seu poder de
compra. Curiosamente, enquanto aumenta a oferta de emprego para os que têm um
curso superior e, na prestação de serviços, para aqueles que ficaram pelo
ensino básico, diminuem as possibilidades da classe média, que vê perigar a sua
segurança e enfrenta uma maior concorrência, com o risco de descer ao nível da
pobreza.
Um ponto
positivo: factores como a classe social ou a família são cada vez menos
determinantes, contando sobretudo o do nível dos estudos, situação
particularmente favorável no caso das mulheres, que assim vêem aumentar as
possibilidades de independência.
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Publicado na DOMINGO CM.