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A fotografia era a do costume e o comunicado, também como de costume, falava de um ambiente cordial, entendimento mútuo, solidariedade, pelo que deve ser essa a razão que só aqui e ali, em letra miúda, se referiu a cena nos bastidores, em que o presidente Trump pregou um susto a D. Ângela. Sem lhe chamar caloteira, pôs-lhe diante dos olhos a folha de papel onde, secamente, tinha mandado imprimir a conta em dívida, nada menos que os 290 mil milhões de euros que a Alemanha desde 2002 deve aos Estados Unidos pelos custos da NATO, acrescidos de 55 mil milhões em juros.
Compreende-se o abalo
da senhora, e que ela, deitando uma olhadela vesga ao papel, se tenha abstido
de lhe tocar, chocada de se ver nos antípodas dos salamaleques e punhos de
renda que são o folclore das chamadas “altas esferas”. E assim pronto surgiu um
ministro alemão que, a coberto do anonimato, explicou aos “media” que “esse
tipo de exigências são feitas para intimidar, mas a chanceler manteve-se muito
calma e não vai reagir à provocação.”
As “altas esferas”
da NATO comentaram no mesmo tom, mas corre que não tardará a que os países da
aliança comecem a pagar os 2% do PIB que devem aos EUA, se quiserem que esse generoso
país continue a fazer de guarda-costas.
Todavia, referindo
o caso, devo dizer que me diverte menos a cena com a chanceler alemã, do que imaginar
o que terá passado pela cabeça dos vários presidentes e primeiros-ministros,
sempre apressados em irem à Casa Branca apresentar cumprimentos e oferecer
amizades.
Ora como “o
Donald”, além de fracas maneiras se mostra imprevisível, o visitá-lo não parece isento de risco. Também o dizem
pouco versado em geografia. Por certo será capaz de no mapa apontar a
Grã-Bretanha, a Alemanha, a Rússia, talvez mesmo o Uzbequistão, onde costumava
ir a negócios, mas é improvável que faça ideia de em que parte do mundo se
encontram a Hungria, a Albânia, ou mesmo o nosso Portugal.
Assim sendo, e apeteça
ele viajar para Washington a satisfazer a sua conhecida ânsia de criar amizades
e distribuir sorrisos, estou certo que ao afectuoso Presidente Marcelo seria
poupada a apresentação da factura – peanuts,
comparada às dos outros – mas nada garante que “o Donald” respeite o protocolo
e, dada a sua intemperança, seja bem capaz de uma inconveniência. Por isso,
caso a febre das visitas os ataque, ao nosso e outros presidentes será mais avisado
irem cumprimentar o Papa, o rei da Suécia, ou o príncipe do Mónaco, porque
esses não fogem à regra.
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Publicado na DOMINGO CM.