sexta-feira, novembro 25

Rótulos

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"O rótulo de "esquerda" ou de "direita" confere o conforto da pertença tribal, a garantia antecipada de defesa do grupo-alcateia em caso de ataque vindo do exterior, mas, sobretudo, defende o indivíduo contra si mesmo, resguardando-o do vício trabalhoso de ter de pensar. Mais ainda, é um ansiolítico tranquilizador para o maior dos medos modernos, o pavor da solidão. Da integração numa das duas culturas – de esquerda ou de direita – decorre automaticamente uma reposta padronizada a questões que, de outra forma, exigiriam um esforço e uma autonomia que são descartados graças a um mecanismo que de imediato segrega códigos, rituais, comportamentos e práticas que moldam o gosto e os hábitos, incluindo no plano do comportamento afectivo e sexual, na escolha dos lugares de convívio, restauração e lazer ou no modo de vestuário. Mas, sobretudo, a filiação na esquerda ou na direita determina, tantas vezes inconscientemente, o posicionamento que é suposto ser adoptado em face das mais diversas situações e problemas. Tomar partido a  favor da posição A ou da posição B nem sequer é visto como obrigatório ou coercivamente imposto, sendo antes encarado como o produto "natural" e "espontâneo" de uma dada pertença ideológica ou política profundamente interiorizada ("a minha visão do mundo"), à semelhança do que ocorre com as convicções religiosas nascidas do bricolage espiritual (a "minha fé")."
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In Da Direita à Esquerda – António Araújo – editora Saída de Emergência, 2016.