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Escreveu-me uma leitora a queixar-se de serem os personagens
dos meus livros gente azeda, bruta, violenta, espelhando uma humanidade em que
não se adivinha carinho, um sentimento bom, uma réstia de amor ao próximo, uma
ponta de esperança.
Provavelmente assim será – tudo depende da cabecinha de
cada um – mas tenho eu, tem o escritor, a obrigação de agradar a quem o lê?
Deve, pode, quer ele, antes de meter mãos à obra, fazer um gráfico de passáveis
bondades e gentilezas, beijinhos generosamente dispensados ao longo das páginas,
ternuras, fins de tarde como só há nas Bahamas?
Respondo pela negativa e por mim falo: não tenho
obrigação de agradar, nem me passaria pela cabeça deixar de escrever como sinto ou quero para que me achem bonzinho.
A senhora terá de ir bater a outra porta.