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Ofereceram-mo sem intenção maldosa, mas na minha idade a
leitura de Nada a Temer, de
Julian Barnes, está bem longe de ser revigorante.
Vou a meio das duzentas e cinquenta e quatro páginas, e
aquilo é morte para aqui, morte para ali, doença assim, invalidez assado,
cadáveres, cenas tétricas, decomposições... O passamento dos amigos de
Flaubert, os cinco anos da agonia de Ravel, o enterro de Shostakovich em
Veneza, o diálogo de Arthur Koestler com um aviador, o primeiro a dizer que não
tinha medo da morte, mas medo de morrer, o outro a afirmar o contrário.
Sei agora que Gogol faleceu a gritar, Diaghilev desatou
às gargalhadas, e Daudet ao terminar a sopa. É de esperar que a morte deste
último tenha sido fulminante, porque os médicos "tentaram durante hora e
meia (!) reanimá-lo, segundo o método então popular de tracção rítmica da
língua.”
Como já disse vou a meio do volume e se, de facto, não
rio às gargalhadas, a verdade manda confessar que tenho sorrido. É que o relato
da morte alheia oferece esse bizarro conforto: dá a impressão de que a nossa
ainda vai demorar.
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Publicado no CM.