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Esquecidas as
esperanças, quase a entrar na velhice, o que muitas vezes repete e mais lhe
dói é de ter crescido com a liberdade, a pílula, outros costumes, e não ter
aproveitado. Viu as que se tornavam alegremente desbragadas, fazendo "como
lá fora", e depois serem felizes, prova viva de que a virtude
também não compensa.
Casou sem paixão,
satisfazendo os pais, que viam no Diogo o genro ideal, tanto ele correspondia
ao que julgavam ser garantias de bom futuro. E de facto assim tinha sido. Desconheciam
altos e baixos, viviam numa confortável mediania de sentimentos e rendimentos,
os seus dias eram serenos, as férias planeadas, os aniversários alegres.
Os filhos, três
rapazes, rumaram para o seu próprio destino, é neles que vagamente pensa um fim
de tarde, recordando os partos, os anos de infância, a aflição das doenças. Ao mesmo tempo
esforça-se por varrer da memória o momento de ontem, o mais velho, o Alberto, a
contar o que lhe tinha acontecido a semana antes em Estocolmo, uma hospedeira da
SAS a jurar que nada nele parecia português, antes sueco.
- Sabe o que lhe
disse, mãe? Que caiu só em mim algum gene dos vikings que andaram por Viana,
que é a sua terra. Os meus irmãos parecem-se mais com o pai.
Ela sorri
melancólica e acena que sim, pergunta-lhe para onde será o próximo voo, mas não
ouve a resposta.
Tinha sido uma
única vez, quando trabalhava no hotel. Um alemão.