Começou por uma diminuta mancha na face. A meio dos trinta anos, alegre, feliz, cheia de vida, só depois de muita instância foi ao médico. Era um cancro, tão avançado que nessa mesma hora a internaram e no dia seguinte estava a ser operada. Havia esperança, confortaram-na de que iriam fazer o possível para não desfigurá-la, nem perder o olho direito.
Uma tarde caiu de cama com
gripe, piorando de tal modo que teve de ser internada, o corpo agora debilitado
pela pneumonia. Um mês depois estava curada e, de novo no serviço de oncologia,
perdeu a conta dos exames e dos médicos que a estudavam o seu caso.
Uma tarde houve mudança no
horário, pediram-lhe que voltasse no dia seguinte.
Ao entrar estranhou que, em
vez da equipa, apenas o cirurgião a esperasse.
- Nada mais podemos fazer por
si – disse ele. – É um cancro extremamente agressivo. Se não fosse o tempo perdido com a gripe de
certeza a teríamos salvo, mas assim...
Na passada sexta-feira à
tarde reuniu os amigos e, calma, com dignidade, anunciou a sua morte. Talvez
lhe reste uma semana, duas, um mês. Se o sofrimento se tornar insuportável recorrerá
à eutanásia.
Éramos oito a ouvi-la. Um ou
outro não pôde conter as lágrimas e foi ela que serenamente os consolou.
Embora saibamos qual o fim de
todos, nada nos prepara para a despedida de quem na força da vida ouve a
sua condenação à morte.