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Há cerca de duzentos anos que a intelectualidade portuguesa demonstra grande interesse pelo estrangeiro. Até aos anos 70 do século passado a França – valha-nos aqui a recordação de Mao-Tse-Tung – era o grande timoneiro do pensamento, das artes e da literatura nacional, o espelho onde se ansiava ver reflectida uma imagem que num e noutro caso correspondia aos sonhos, mas de modo algum encaixava na realidade.
Porque não era feita à nossa medida e de empréstimo, a fatiota,
além de nos ficar curta nas mangas, como apontou uma figura célebre, tolhia-nos
o andamento, impedindo-nos de ir além da imitação.
O 25 de Abril e, uma dezena e pico de anos depois, a mão
que nos estendeu a Europa, puseram fim à antiga subserviência às ideias de
França, dando lugar a um não menos servil anseio de visão global, idêntico ao
que os psiquiatras constatam nos indivíduos que querem e não podem, e em
linguagem corrente se chama a mania das grandezas.
Desse modo, em tudo o que é meio de comunicação, abundam
os explicadores que, com imitada ciência e pose de seriedade, esmiuçam os
arcanos da finança, as razões da política internacional, os desmandos da
economia grega.
O próprio, o necessário, o de casa, pouco ou nada lhes
interessa. Em vez da lupa preferem o telescópio.