Aldina Duarte
Seria demorado explicar, porque é um estremecer que vem do
mais longe dos meus anos de menino, o som e a dolência do fado, a primeira
música que conscientemente ouvi, tão entranhado nela que me perdoo a teimosia
com que continuei a tocar guitarra, mesmo quando há muito sabia que me faltava o
jeito e nunca passaria de amador.
Em horas de desalento, mas também em dias bons, há por vezes
em mim uma urgência de ouvir o fado, como se, estando longe, a alma me queira recordar a
precisão de manter os laços que me prendem à terra em que nasci, mas que por
razões várias e alguma tristeza, tantas vezes sinto afrouxar.