quinta-feira, junho 5

Um presente


É um presente que quero dar. Coisa única, minha, íntima, acarinhada durante anos. Embora seja objecto é parte de mim, contém pensamentos que tive, palavras que escolhi e alinhei. Mesmo as rasuras, as correcções, as entrelinhas, os rabiscos, têm nele significado, dão prova dos medos que me assaltam, da inconsequência dos meus sentimentos, da confusão que tão bem sei esconder.
Não é um diário, nem esboço de romance, antes o improvável documento onde confissão e  fantasia vão de par, espelhando a realidade diária, contendo também alguma coisa do mistério onírico em que por vezes nos embrenhamos e nos salva.
É ainda uma  amálgama de sentires inventados e horas de dolorosa verdade, falsas paixões, muito verdadeiros amores, promessas, destinos, aventuras imaginadas, outras que melhor seria não tê-las vivido e suportado.
Quero dá-lo, e uma decisão tomei: irá para alguém que não faça ideia do que se trata, donde ou de quem vem, e por que razão lhe cabe.