História contada ao serão. Enredo camiliano. Pai nobre, ameaças de morte, tiros que de propósito falham o alvo, virgem desflorada pelo amante da mãe, o "Panças".
O pai, ricaço no Brasil, conversa o seminarista, enche-lhe a bolsa em troco da cornadura, abalam os recém-casados para Belém do Pará.
Vêm de visita anos depois, "brasileiros" no luxo e no falar. Por artes que só podiam ser de Belzebu – como a bruxa de Algoso confirmou - o "Panças" reacende na rapariga o fogo da carne, o ex-seminarista apanha-o a montá-la no leito conjugal. Também ele dispara uns tiros e, bom aprendiz, avisadamente também erra a pontaria. Escapam os adúlteros à fúria assassina, corre o povo a acudir, reza-se na igreja para que não haja mais desgraças.
Outra vez corno, e com razão descontente, o "brasileiro" mete-se a caminho para Lisboa, toma lá o paquete, e de momento sai da cena.
O problema agora é do "Panças", que cedo e com surpresa descobre que a amásia, a "Puta" – assim passa a chamá-la – não presta. Não presta na cama, não presta na cozinha nem nos arrumos, e como é senhora não se lhe fale em coisas de gado e lavoura, porque torce o nariz.
Habituado a fazê-lo às mulas que não obedecem, o "Panças" deita-se a ela à cinturada e pontapé, mas o estupor refila, não aprende.
Entra agora no enredo um padre de vila próxima. Ciente dos sofrimentos da infeliz e dos dinheiros do pai, apieda-se, recolhe-a, também a monta - o que se vem a saber por indiscrição da "sobrinha" do santo homem. De seguida, intermediário experiente, bom negociante, a troco disto e daquilo consegue os vários perdões e, final feliz, acompanha-a de retorno ao seio da família, ao bem-estar e à paz conjugal.
Como se veio a falar do caso? Estávamos a lareira depois das notícias, tínhamos discutido a crise e os processos que vão correr, quando alguém disse que os filhos da puta tinham chegado à aldeia de tal. Houve confusão, não se compreendia o que teria trazido o sucateiro, os banqueiros e os políticos corruptos para este longes. Mas logo se aclarou. Não era deles que se tratava, era dos filhos da "Puta", história dos anos sessenta que poucos recordavam.