domingo, setembro 25

Agradar

A senhora mandou dizer que não gosta de mim. Sem nunca me ter visto não gosta de mim como pessoa, a minha escrita desconsola-a, os meus pontos de vista e atitudes soam-lhe a  rabugice.
Temos aqui um problema, pois a simpatia e o apreço me fazem falta como o pão para a boca, desde que a intermediária me surpreendeu com a novidade tenho feito más digestões e perdido horas de sono.
É evidente a impossibilidade de forçar que outrem vá com o nosso modo, mas um qualquer  confirmará que em matéria de trato sou do tipo corrente. No que refere a prosa o caso torna-se bicudo, já que eu próprio partilho a opinião da senhora e, com frequência, me surpreendo a imaginar quanto daria para ter o estilo de fulano, inventar os enredos de sicrano, merecer prémios como esses jovens imbuídos do espírito do tempo.
A vida, porém, há muito me provou a verdade do ditado neerlandês que agora ajusto à nossa língua: quem nasceu para tostão não chega a conto de réis. De forma que, assim seja: para meu mal, nem no modo nem no verbo me vejo capaz de agradar à senhora.