Fora o empolado prestígio que se lhe atribui, o ser-se licenciado concede na aldeia poderes inesperados.
Assim, ao ouvir-me sair de casa, a Filomena aparece à varanda e pede consulta médica. Na semana passada no hospital receitaram ao Bernardo uns comprimidos amarelos que não lhe fazem nada, até se sente pior, e tosse mais. Por isso, como homem de estudos, eu que lhe diga o que ele, com aquela tensão desmesurada e os diabetes, pode comer ou não.
A prudência mandaria que me esquivasse com desculpas, mas numa situação assim a prudência não tem cabimento. E receito: o Bernardo que evite o sal, o açúcar, a carne de porco, o vinho, o café. Que evite as aflições e os nervos. Que não se canse a trabalhar.
Trabalhar, pouco trabalha, responde ela. E beber, é só um copito de vez em quando, coisa de nada. Infelizmente, ninguém o vai obrigar a comer comida sem sal, a dispensar os doces, a carne de porco, o café e o leite bem adoçados.
Encolho os ombros, ela encolhe os ombros. Sorrimos. Quase em simultâneo dizemos que então será o que Deus quiser.