quarta-feira, outubro 14

Páginas

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Cada um sabe de si, cada um faz como quer, muitos fazem como lhes sugerem ou têm bom faro para modas. Assim seja, nada contra.
Sobre um recentemente publicado e já famoso romance leio encómios,  ditirambos, garantias de que tudo nele é do mais alto nível, surpreendente de página para página.
No volume original são elas quinhentas e sessenta e três, o que é boa mediania, pois um qualquer sueco posto a contar as suas bebedeiras, cópulas falhadas, alucinações, dilemas de fé, ânsias esotéricas e arrelias com a prole, facilmente alinhava seis vezes mil. Nada de excessivo, portanto.
Comecei entusiasmado a leitura e são logo umas doze páginas de mãe e filha, em telefonemas, questões de coisa nenhuma, conversas, problemas caseiros, problemas no call center, indiferença dos colegas. Há depois uns detalhes sobre a falta de alegria no trabalho, visitas à sanita, uma cópula adiada devido a uma discussão sobre o preenchimento de um formulário,  mais páginas a explicar que em certas alturas é difícil reter a urina.
Como por toque de varinha mágica vê-se o leitor em Berlim, onde o Muro ainda não caiu. Ontem à noite, chegado à página setenta e dois achei que bastava, arrumei o tomo.
São gostos, e o meu só para mim é válido. Devo talvez acrescentar que por ser  de pouca paciência me têm escapado muitas obras-primas.

terça-feira, outubro 13

Tudo se há-de arranjar

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Vista de longe, com o desprendimento que a distância dá, a vida política em Portugal permanece uma deprimente ópera bufa.
Como antes, agora e depois conta nela o poder e o tacho, o arranjinho, o compincha que faz jeitos, o palavreado - como se o falar muito e agitar muito corresponda a uma verdadeira acção, signifique um propósito, tenha em conta o interesse e o futuro da res publica. Não tem. É tudo folclórico, passageiro, pequenino, mesquinho, ar e vento, paleio, um faz de conta, abraços e apertos de mão.
Rosna-se, mas não se luta. Critica-se, mas não se age nem se finca o pé, não se resolve. Às vezes quem ganha perde, mas o contrário também acontece. E então espera-se. Tudo se há-de arranjar.

segunda-feira, outubro 12

Bons tempos

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domingo, outubro 11

Tulipas Vermelhas


À falta de melhor insulto, no bom tempo das "tulipas vermelhas" até a "ex-diplomata do Governo de Salazar" me promoveram. "Negociante de café brasileiro" também era fraca recomendação.



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sexta-feira, outubro 9

O sentido da oportunidade

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Da Wook na minha caixa de correio, ontem, às 18.35.

quinta-feira, outubro 8

O senhor José Rodrigues dos Santos?

Num país civilizado era simples e expedito: rua com ele.

NOKIA 9000

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NOKIA 9000, o segundo que comprei. Em 1997, e já tão longe.

quarta-feira, outubro 7

O princípio

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Confidência para os jovens colegas, os candidatos a escritor e aqueles que sonham "começar um dia destes a escrever um romance":
Há um tempo – não vou dizer quanto, para não correr o risco de que pensem que exagero – que tento escrever um novo romance. De modo geral, embora ainda confuso e sujeito a toda a sorte de mudanças, já tenho o arcaboiço. Tenho também uma ou outra cena, diálogos, descrições disto, daquilo, ambientes, o todo um tanto confuso e ainda sujeito a variações bruscas.
Como não tomo notas nem faço esquemas, o processo mental é cansativo, demorado, caótico, tem alguma semelhança com o assistir em desordem, e por vezes em simultâneo, a cenas de vários filmes. Porque assim é, e ao fim de muitos meses ou anos resulta em obra acabada, continua a surpreender-me.
Em aparência, pois, o grosso do trabalho está feito. Falta-me, contudo, o essencial e primordial começo, a frase, o momento indispensável para "agarrar" a atenção do leitor, surpreendê-lo de modo a que se entusiasme e ganhe interesse pelo que lê.
Tenho a cena de um homem com uma carabina apoiada no rebordo da janela. Aponta, regula as linhas do visor até que o cruzamento se faz na imagem da cabeça do que vai ser vítima. Mas irá disparar e matar? Hesita ainda? A mulher entra, interrompe-o, fá-lo mudar de ideia? A mulher estaca e tapa os ouvidos à espera do disparo?
A primeira cena, as frases iniciais: esse é o grande bico de obra.
………..

PS. Em The Postman Always Rings Twice James M. Cain escreve um começo de  simplicidade genial: "They threw me off the hay truck about noon. I had swung the night before, down at the border, and as soon as I got up there under the canvas, I went to sleep."


terça-feira, outubro 6

O caruncho

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Teria à volta de catorze anos quando descobri um alfarrabista na Rua do Bonfim, no Porto, género de comércio que desconhecia, e foi grande a surpresa de com os poucos escudos que eram a minha mesada, me abastecer de Emílio Salgari e Júlio Verne, passar deles a Balzac, assombrar-me com "Os Miseráveis".
Desde esse tempo remoto os livros continuam a ser para mim o que então eram, satisfazem algo que, como fenómeno, está próximo da fome. O que mudou é que o livro, enquanto objecto físico, tem agora tendência para me entristecer, pois aos  que enchem as prateleiras vai acontecendo o mesmo que a mim: envelhecem. Os meus Eças dos anos 40 estão, como desde o princípio, em grande desarrumo, mas já não me atrevo a tirá-los do lugar, e se por acaso ou necessidade o faço não os abro nem folheio, certo que se me desfazem nas mãos.

segunda-feira, outubro 5

O dia seguinte

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O que me entristece no resultado eleitoral: a dramática percentagem de abstenções a demonstrar a nossa falta de sentido cívico; a banalidade e a insipidez dos comentários. Ninguém perdeu, todos venceram.