Perde-se-lhe a conta, e a chamada experiência que a idade supostamente proporciona de nada adianta para aguentar o choque, que na verdade não é choque, mas aquele sentimento a que em linguagem corrente se dá o nome de chatice.
De viva voz, por mail, numa ou noutra ocasião por carta, raro
passa semana sem que um certo tipo de carinhoso leitor ou leitora me ponha ao
corrente do entusiasmo que lhe causa a minha escrita.
Começa pelos cumprimentos, alarga-se neles, mas feito esse
intróito entra no cerne do comunicado, explica
então que se gostou muito do meu romance X, o romance Y o/a desiludiu, leu
depois o Z e não gostou nada. Na página tal deste último emendaria o parágrafo
que começa por…; tiraria as duas vírgulas que estão na linha vinte e sete;
neste e naqueloutro diálogo surpreende a falta de naturalidade…
Oiço e leio com paciência, já nem abano a cabeça, mas no
íntimo, em forma de oração, oiço-me a dizer: poupa-me os elogios, mete as
críticas no mesmo saco onde os avisados metem a viola, vai bater a outra porta.