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Porque os olhos se vão pouco a pouco habituando, leva
tempo a que a memória acorde e dê conta da mudança: há coisa de vinte anos para
cá as mulheres mudaram de passo. Raro caminha uma ou outra com a graça e o
remanso que se dizia próprio do feminino. As idosas ainda vão com a sem-pressa
a que obriga a idade, mas as que hoje rondam os quarenta, cinquenta anos, ou daí
para baixo, pelo menos a mim costumam dar a impressão de que se alistaram nos
comandos ou estiveram nas marchas forçadas dos regimentos de infantaria.
É um
atirar de pernas de regimento coreano em parada. As calças e as minissaias por certo facilitam a
desenvoltura, mas creio que toda aquela agitação provém menos de uma pressa que do espírito
competitivo, tornando o espectáculo da rua o anúncio de inesperadas
transformações: vão as raparigas em passo enérgico e acelerado, mais fortemente
contrastam aqueles sujeitos que, decotados até ao umbigo, a barriguinha da
perna à mostra, se movem dengosos, molengões, os olhos postos no iPhone e nas sandálias
Jesus.