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Como sempre fazem, a Marizé e o Alberto
telefonaram a dizer que correu tudo bem. Estiveram na Argentina, Bolívia,
Paraguai, passaram no Iguaçu deram uma volta pelo Pantanal, mas ainda nem
desfizeram as malas, por isso só depois de amanhã, ao fim da tarde, virão de
visita para contar tudo.
Desanimadora perspectiva. Na segunda metade
dos anos 90 este simpático casal descobriu o feitiço das viagens, e assim, ela
dentista, ele com umas quantas garagens, o muito tempo livre que a
desafogada existência lhes proporciona, gastam-no a ver mundo.
Nada a censurar, bem ao contrário, eles
próprios aludem de vez em quando aos benefícios do turismo para a economia dos países pobres,
fora o impacto positivo que a presença de turistas tem na mentalidade e nos
hábitos das populações atrasadas.
Aceno que sim, pois ambos são gente
agarrada ao bem fundado das suas
opiniões, ademais avessos a debates e discordâncias. Também típica de ambos, repetida
ao longo do tempo e, graças a Deus, nunca realizada, é a promessa de trazerem
os vídeos e as fotografias que querem pôr na internet.
Delicados, boa gente, facilmente se passa
a esponja sobre as suas pequeninas falhas e idiossincrasias, embora uma destas
custe a digerir.
Seja a Galleria
degli Uffizi em Florença, o Hermitage
de São Petersburgo, a Cordilheira dos Andes, o Taj Mahal, o gelo do Alasca, a selva africana, os mosteiros da
Grécia, a paisagem da Anatólia, perguntados sobre tudo isso e o muito mais que
já viram, só se lhes tira um comentário: "É muito bonito! Gostámos muito!"
Nessas ocasiões, reprimindo o bocejo, fazendo de modo que a expressão do rosto não traia o pensamento, pergunto-me de
que adianta tanta viagem para tão pequeninas cabeças.