sábado, junho 29

Herdeiros


Mandela morre, não morre, o presidente Obama vai de visita, não vai, cá fora o povo reza e dança à boa maneira Zulu, as televisões contam também da zaragata na família do moribundo.
Uns filhos querem-no enterrado onde nasceu, outros onde se criou, estes exigem os extensos vinhedos da House of Mandela, aqueles querem ser os únicos a explorar a marca Mandela.
História de todos os tempos. Fora que possuir um lugar de peregrinação, indústria de relíquias e souvenirs, e o herói num mausoléu, talvez envidraçado, acorda miragens de Fátima, Lourdes, Graceland, Disneyland, por menos começa a escorrer água da boca,
Discutimos o caso, e ela, um pouco afastada não toma parte da conversa. Falar de herdeiros é assunto doloroso, tabu, recorda-lhe a altura em que os irmãos, por natureza sempre desavindos, se concertaram para arranjar quem a liquidasse e ficarem eles com a herança. E não eram vinhedos, marcas comerciais, Fátimas  ou mausoléus o que estava em jogo, mas umas terras que, por ano, pagam quarenta e dois euros de contribuição predial.