O sacaninha tem aquele sorriso imbatível, o
olhar meigo, a dicção cuidada, o modo que pertence a quem veio ao mundo em
ninho confortável. O sacaninha sabe dos clássicos, de línguas, é bom nas
citações, fá-las em Latim quando é preciso. O pequenino poder que detém usa-o com o discernimento dos hábeis, medindo
agrado e severidade, diligência e desprezo, sorriso e má cara. Depende a quem,
mas tão presto é nos rapapés como nos pontapés.
Para seu mal, tem nessa presteza o tendão
de Aquiles: faz de vez em quando rapapés a quem não lhos aceita, e há ocasiões
em que, falhando o alvo, recebe com juros o pontapé que deu.
Mas nem isso o quebra: o sacaninha é como o
vime, dobra-se conforme o vento e o poder de quem sopra.