Pena sinto de não ter aprendido uma profissão, uma daquelas com regras, medidas, trabalhos que se começam, acabam, e nos deixam com obra que se veja. Porque a escrita me dá cada vez mais a ideia de que ando a enganar o alheio e a mim próprio.
Isto de escrever são neblinas, fumos, a fatiota inexistente do monarca, dança que você eu dançamos, fingindo ouvir música que banda nenhuma toca.
Sejamos francos: em cada século haverá uns quantos, não muitos, escritores que verdadeiramente enriquecem a humanidade. Mas que proveito vem ao mundo da colossal pirâmide dos milhões de livros que descarregamos com a ajuda das cloacas do comércio?
Sinto-me cansado, tenho dormido mal, este calor não ajuda a disposição, e a gastronomia dos dias em que vim de viagem também não foi propícia. Mas o céu promete chuva e frescura, pelo que é bem possível que eu amanhã acorde optimista, louvando o Senhor, jurando com dobrado entusiasmo o avesso do que acima digo.