terça-feira, fevereiro 12

Vêm aí os chineses


Vêm aí os chineses
São inúmeras as razões para as desavenças familiares, e com verdade se pode afirmar que a maioria delas encerra o embrião de uma telenovela ou romance, dependendo isso do talento de quem se meter a escrevê-lo. Porque talento, e muito, é necessário para fazer um bom enredo de situações comezinhas, pois o geral dos conflitos domésticos quase sempre tem origem em motivos que, analisados a frio, facilmente seriam resolvidos.
O mal é que há horas em que as diferenças de sensibilidade fazem com que o simples se torne complicado, o que aos olhos de um estranho mais não seria que um amuo possa resultar em tragédia, uma troca de palavras seja motivo para facadas. Isto para não falarmos das situações explosivas criadas por interesses opostos no caso de heranças, partilhas, ou simplesmente animosidade irracional. Uma faísca de desacordo, adeus harmonia familiar.
O caso que me contou um jovem recém-casado, de certa maneira escapa à lista habitual, mas distingue-se por ser muito deste curioso tempo em que vivemos, e também porque antecipa situações que, por agora, só complicam a vida de poucos.
Discutia-se alegremente ao jantar acerca do nome do bebé que vai nascer em Junho. É rapaz, e os onze familiares presentes foram unânimes na escolha de que será António, o nome de ambos os avôs. Falou-se em seguida dos preparos  para a festa do baptizado, de enxovais e fraldas, de parteiras, chupetas, rememorou-se a infância do casal, até que no meio disso tudo o pai da jovem mãe fez tilintar o copo, pedindo atenção.
Catedrático de Economia e obcecado pelo planeamento, propunha ele que no primeiro aniversário do menino se contratasse uma empregada chinesa.
Pasmo geral. Com raras excepções, todos os presentes tinham sido acarinhados na infância por raparigas minhotas que, modelos de ternura e afeição, ficavam anos na casa. Que motivo havia agora para no meio da mais portuguesa das famílias implantar uma empregada exótica?
Razão e boa, como explicou: - Vocês sabem-no tão bem como eu, não há dúvida nenhuma de que os chineses já dominam o mundo. Estão em toda a parte, compram tudo o que tem valor  estratégico. Um miúdo que fale mandarim começa a vida com uma enorme vantagem!
De seguida, claro, foi cada cabeça sua sentença, o que tinha começado com serenidade e harmonia acabou em discórdia, alguns ficaram de relações cortadas.
Agora pede-me o jovem que lhe diga o que penso da atitude do sogro. Não vou dizer, nem sequer lhe confessarei a inveja que tenho de quem sabe planear.