domingo, abril 28

A Maratona das Areias

 

Sedentário por temperamento e incapaz de, à maneira de Eça de Queirós escrever em pé, quase tudo o que implica esforço físico desperta em mim uma sensação de desagrado, como se o mexer-me seja esforço demais ou exija qualidades que não possuo.

É assim curioso ser George um dos meus bons amigos, pois além de ter metade dos anos que conto, é fanático no que respeita provas de capacidade muscular, sempre pronto para desafios que exijam o máximo do seu corpo. Além disso, teimoso por natureza, basta alguém pôr em dúvida o esforço de que se diz capaz, para que ele de imediato meta mãos à obra a provar o contrário.

Durante uma conversa sobre nada coisa nenhuma, o Daniel  perguntou se algum de nós tinha ouvido falar da Marathon des Sables. Vendo-nos a abanar a cabeça que não, explicou ele que é única entre as competições mais duras do mundo inteiro, pois exige uma resistência e esforços que, sem exagero, se podem chamar sobrehumanos. Nada menos do que, em etapas de vinte e um a oitenta e cinco, correr um percurso de duzentos e cinquenta e quatro quilómetros até à meta. Suportando temperaturas que chegam aos quarenta graus, subindo dunas com vinte e cinco porcento de inclinação.

Já estávamos de boca aberta, mas o Daniel acrescentou que cada participante tem de levar tudo o que necessita de equipamento, comida bastante, e até produtos que o protejam das picadelas de serpentes e escorpiões. Ninguém conte com assistência ou auxílio, a organização apenas garante que não lhes falte a água.

Quando terminou, e como era de esperar da idade dos que ali estávamos, abanámos a cabeça, descrentes que houvesse gente para tal aventura. Mas há, e assim viemos a saber que o nosso George uma vez participou, mas mesmo ele não tenciona repetir.

 

 

sábado, abril 27

Não gabar, nem arrepender

 

 "A História feita crime" Aqui

sexta-feira, abril 26

Livre

 

Digo-me livre, e minto, fingindo que não vejo as grilhetas que me ferem, os laços de seda que apertam como fios de aço. Vou por onde outros querem que vá, deles a escolha, meu o cansaço da jornada, o desatino de ignorar a meta, se é que de facto, como eles juram, se encontra uma ao fim de tantas léguas.
A minha suspeita é de que não há meta nem propósito, só caminho, e o que julgamos vida talvez seja apenas a transumância de um colossal rebanho, a busca fútil de um destino imaginado.