terça-feira, dezembro 31

Sal na ferida


Este texto é de 21.12.2011. Repito-o, porque a mim só o sonho vão tirando, mas são tantos aqueles a quem tiram o pão e a esperança .

Precoce na leitura, cedo comecei a sonhar e a ter pena do meu país. Aprendi que lá longe havia outros sem medo nem miséria, de leis justas, menos desigualdade, menos desespero, os seus cidadãos e governantes mais interessados no futuro do que em glórias passadas.
Parti, quando a minha hora soou. Ingénuo bastante para me maravilhar, mas cedo consciente do fosso entre a realidade que observava e os sonhos que tivera. Além fronteiras não havia paraísos, mas sociedades onde a esperança de melhoria era um facto, a desigualdade menos gritante, a repressão inexistente, a liberdade um direito sagrado. Fui vendo, estudando, comparando, e continuei a ter pena da terra onde nasci.
Não me entusiasmou depois o florescer dos cravos, e espero o investigador de hombridade que faça a barrela desse momento histórico, mostre os interesses que a ele levaram, ponha nome nos fantoches e em quem segurava os cordéis.
Passaram os anos. Sentindo mais funda a pena, vi o meu país de mão estendida. Com espanto vi-o depois a esbanjar o que não tinha, governantes e governados dando o espectáculo da mais incrível pelintrice, de uma inconsciência que só dos pobres de espírito se espera, tomando por realidade o país de Cocagne.
Vivendo no conforto de uma sociedade rica, justa, bem organizada, materialmente não sofro com a desgraça daquela em que nasci, mas nem por isso me dói menos o esfregar sal na ferida.
Curioso povo, o meu, onde gente supostamente séria e competente enrouquece a gritar que as dívidas dos países não se pagam. Para que fingem? Com que fim iludem? Pagam, com língua de palmo, que quem dita os termos não é o caloteiro, mas aquele que tem numa mão a faca e o queijo, e na outra a corda com que o enforca.
Com tristeza o digo e consolo não sinto: na minha idade é nula a esperança que tenho de ver Portugal sair do atoleiro e da miséria. Resta-me o sonho de que os que agora são jovens, e os que vierem, construam um país de que se possam orgulhar e não lhes doa como este a mim dói.

segunda-feira, dezembro 30

O passado

 
(Clique)

Por mim evito-o, faço-o a contragosto quando mo pedem, sei por experiência que falar do antigamente resulta em conversa de surdos.
A quem nasceu, digamos, nos anos sessenta, não há modo de explicar a vida nas três décadas anteriores. Foi colossal a mudança, são abissais as diferenças, parece história da carochinha o falar de um tempo em que a rádio e a telefonia eram privilégio de muito poucos, a televisão inexistente, a internet um sonho de mágicos; um tempo de biplanos diminutos recobertos de lona, o aviador a acenar; de cegos nas esquinas cantando histórias de mortes e milagres; de aguadeiros, almocreves, recoveiras, carrejões, amoladores, fogueiros tisnados, oficiais de pingalim e boldrié, soldados com patronas. E tanto mais.
Agora a prova dos nove: que, até de sobra, você é pessoa interessada e curiosa do passado, não duvido; mas além de pouco lhe dizer o que acima fica, aposto que não irá ao dicionário, ou ao Google, em busca do significado dos dois, talvez três, vocábulos que desconhece.

domingo, dezembro 29

Cliques


Na noite de Consoada éramos doze à mesa, onze iPhones - eu o único carente – e tanto, tão  bem se comeu, bebeu, festejou, que pouco dei conta do que acontecia.
Nos dias a seguir não tive tempo para ver mails, mas ao fazê-lo esta manhã só não caí de costas porque a idade me impede esse modo de expressão: em nove links era quase milhar e meio de maus, péssimos e falhados instantâneos, a dizer algo sobre o entusiasmo festivo dos convivas, e muito acerca do seu grau de sobriedade.  Olhei por alto, descartei, que mesmo de mim se não pode esperar paciência para tudo.
No bom tempo gastava-se um rolo de filme preto e branco, iam as fotografias para o álbum, ficava a recordação. Hoje, com a mesma facilidade que se clica para registar, clica-se para destruir, e bem é que assim seja: lixo temos de sobra.

sábado, dezembro 28

Balanços


Tempo mal gasto, o de fazer balanços, olhar para trás, carpir derrotas, desilusões e contratempos. Mesmo a listagem de sucessos e benfeitorias não adianta nem conta, que o ontem irremediavelmente passou e, como às vezes se diz, o futuro a Deus pertence. Fica-nos o hoje, com alguns a remar contra a maré, outros deixando-se levar pela corrente, uns quantos fazendo o que podem para ver claro antes que a noite caia.
A isto se chama, e é, filosofar barato, mas talvez seja de algum conforto o descobrir que na luta diária são iguais para todos as armas com que nos defendemos do mais sorna e depravado dos inimigos: nós próprios.

quinta-feira, dezembro 26

Nada de sustos


Uma vez não são vezes: este teste pode dar alguma paz a maiores de setenta anos, e divertir os eternamente jovens de corpo e espírito.

1- Find the C below....do not use any cursor help.
OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO
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OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO
OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO
OOOOOOOOOOOOOOOOOOOCOOOOOOOOOOO
OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO
OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO
OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO
OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO

2- If you already found the C, now find the 6 below.


99999999999999999999999999999999999999999999999
99999999999999999999999999999999999999999999999
99999999999999999999999999999999999999999999999
69999999999999999999999999999999999999999999999
99999999999999999999999999999999999999999999999
99999999999999999999999999999999999999999999999

3 - Now find the N below. It's a little more difficult.


MMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMNMM
MMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMM
MMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMM
MMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMM
MMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMM

This is NOT a joke. If you were able to pass these three tests, you can cancel your annual visit to your neurologist. Your brain is great and you're far from having a close relationship with Mr Alzheimer.

I'm only sending this to my 'old' friends.


Eonvrye whocan raed this rsaie your hnad.

To my 'selected' strange-minded friends:

If you can read the following paragraph, forward it on to your friends and the person that sent it to you with 'yes' in the subject line... Only great minds can read this
This is weird, but interesting!

If you can raed this, you have a sgtrane mnid too.


Can you raed this? Olny 55 plepoe out of 100 can.


I cdnuolt blveiee that I cluod aulaclty uesdnatnrd what I was rdanieg. The phaonmneal pweor of the hmuan mnid, aoccdrnig to a rscheearch at Cmabrigde Uinervtisy, it dseno't mtaetr in what oerdr the ltteres in a word are, the olny iproamtnt tihng is that the frsit and last ltteer be in the rghit pclae. The rset can be a taotl mses and you can still raed it whotuit a pboerlm. This is bcuseae the huamn mnid deos not raed ervey lteter by istlef, but the word as a wlohe. Azanmig huh? Yaeh and I awlyas tghuhot slpeling was ipmorantt! If you can raed this forwrad it.


FORWARD ONLY IF YOU CAN READ IT.
Forward it & put 'YES' in the Subject Line.


domingo, dezembro 15

Doca seca

(Clique)
Para limpeza do casco, manutenção, reparações e descanso do pessoal, a barca "Tempo Contado" entra amanhã em doca seca. Retomará a navegação e o serviço assim que possível.

sábado, dezembro 14

Amanuenses

Conto? Romance? A vida não se arruma em prateleiras, dispensa etiquetas e amanuenses.
Por falta de olhos, de coração, arrogância demais e escassa humildade, tomam a superfície por fundura, imaginam cores onde só há cinza. Aos rapapés de sécias e peralvilhos, abraçados na dança ritual da auto-satisfação, diz um que vê Eros e cópulas na horizontalidade do oceano. Pois verá, que são de todos os tempos os que o Espírito visita, mas tu, eu, mais uns quantos, só vemos ondas, rebentação, o fim de água que se perde no horizonte, o vento a soprar o areal.
Assim nos vamos enganando e desenganando, aos saltos, aos trambolhões, cai aqui pára além, ora crentes, depois aflitos e desesperados, medrosos, evitando olhar para o que fica, querendo amanhãs que nunca chegam, polindo a memória até que nela só reste o que brilha.

terça-feira, dezembro 10

Más horas

O hotel de Lisboa onde desde ontem me encontro e espero ficar até amanhã, é de conforto e luxo. Todavia, o meu quarto no sexto andar não se recomenda a quem sofra de vertigens ou se deixe arrastar por sentimentos de desespero.
(Clique)

sábado, dezembro 7

Gritos em surdina


Desde que findou, dois anos, quase três, nunca mais se falaram. De longe a longe ela envia-lhe um mail, "penso muito em nós", raramente variando a frase, um tom de grito em surdina,  apelo à recordação.
Nunca reage, uma única vez quase cedeu à vontade de lhe lembrar o aniversário de uma noite de paixão, mas conteve-se, cerrando os dentes e mentindo a si próprio com um "o que lá vai, lá vai", consciente do perigo que corre quando enfrenta a quimera da sua felicidade.
Mulher, filhos, família, obrigações, rituais, tudo se lhe assemelha vazio, desbotado, impossível de comparar à verdade do que sentiu e partilhou, do que teve e perdeu.
Dispensa a fantasia para imaginar a vida que o espera: olha em volta, chora sem lágrimas e, como ela, também grita em surdina.