A culpa é dos gangues
Comentar e explicar há de sobra
quem o faça, pondo de lado que a realidade suporta mal as teorias, e aos
cidadãos, aos homens da rua que somos, não cabe mais que observar, sentir, e
abstermo-nos de julgar.
São pessoais as razões porque desde
os anos 60 admiro a Suécia, um país que não somente tinha ganho fama pela
beleza das suas raparigas e os filmes sombrios de Ingmar Bergman, mas se
mostrava exemplar no campo social. O seu nível de solidariedade e justiça
tocava o excelente, o mesmo era válido para a qualidade das escolas, para o
esforço que lá se fazia para diminuir a desigualdade, em nenhum outro país se
conheciam os benefícios concedidos às mulheres para lhes facilitar as canseiras
da maternidade.
A Suécia destacava-se ainda pela
sua atitude humanitária, dando guarida a oprimidos e refugiados. Foi assim que
ao terminar a Segunda Guerra Mundial acolheu os milhares de estonianos que
fugiam da União Soviética, depois milhares de chilenos e argentinos ameaçados
pelas ditaduras, nos anos noventa aceitou a grande enchente dos que escapavam à
guerra nos Balcãs. Recebendo a todos de braços abertos, a Suécia conseguiu que se
integrassem de modo exemplar.
A situação viria a conhecer uma
reviravolta em Setembro de 2015, quando em média começaram a chegar diariamente
dois mil refugiados do Médio-Oriente e da África, atraídos pelo discurso em que
o Primeiro Ministro Löfven afirmara: “A minha Europa não levanta muros, a minha
Europa corre a ajudar.” Entretanto, nesse
mesmo ano o número de refugiados ultrapassava já 160.000, desde então os atritos têm vindo a aumentar, é
sensível o impacto causado pela massa de imigrantes numa população de apenas 10
milhões.
O Primeiro Ministro que não
queria muros, pondera agora chamar o Exército para intervir numa situação que
excede a capacidade de resposta por parte do governo. No último ano houve mais
de 320 tiroteios, dezenas de explosões, 110 assassinatos e para cima de sete
mil violações, que não terão seguimento, dada a sobrecarga de trabalho das autoridades. Num
mês foram incendiados mais de setenta automóveis, e nas ruas de certos bairros onde
a Polícia não entra, vêem-se rapazes de catorze, quinze anos, orgulhosos dos
seus coletes antibalas e armados com kalashnikovs.
Porque tem olhos e ouvidos,
conheceu melhores tempos e se sente indefeso, o povo aceita mal a explicação do
Primeiro Ministro, de que se trata de guerra entre gangues. Assim fosse, mas é mais:
é a derrota do idealismo pelo pragmatismo.