sexta-feira, maio 23

Nunca os pulhíticos deixarão a mama

 https://observador.pt/opiniao/nao-aprenderam-nada-nem-vao-aprender-agora/

quinta-feira, maio 22

Parabéns ao Telmo

 https://blasfemias.net/2025/05/21/o-voto-chega/

quinta-feira, maio 15

Tradição

Desde a data remota de 15 de Maio de 1948, e caso me encontre em Estevais, o meu aniversário tem sido sempre festejado em casa amiga – tão amiga que é o mesmo que família.

Repetiu-se hoje o uso, recordando com a saudade os que nos deixaram, agradecendo que com gerações novas a tradição se tenha mantido, e também a esperança de que,  quando já não estivermos, os de então nos recordem com amizade e carinho.

terça-feira, maio 13

À espera

Se estivesse em maré de gracejar - não estou - cairia para o gracejo fácil, dizendo-me à espera de Godot. Mas até para sorrir me falta vontade ou motivo, e o vácuo mental não predispõe bem.
Vale, felizmente o carinho humano, sobretudo num meio diminuto como a nossa aldeia.

Vem manhã cedo a vizinha, a torta e o saco de laranjas servindo de pretexto para esconder a razão verdadeira. é  que desde ontem à tarde ninguém nos viu nem ouviu, e pode ter acontecido alguma coisa.

Carinho, simpatia, aflição, curiosidade - razões boas que depressa se perdem  e desaparecem no formigueiro da cidade.

domingo, maio 11

A sério

Felizmente, neste cansado e velho país os senhores políticos tomam a sério a governação da coisa pública. Pública de nome, mas muito privada, particular e de gordos benefícios.

O povo assiste ao espectáculo, encolhe os ombros, reza para que na albarda não aumente de peso. Mas aumenta, e um destes dias o pobre burro tropeça, cai, depois se verá.

sexta-feira, maio 9

Aprendendo a morrer

É o que tenho feito estes últimos dias. Olhando para o meu passado, e perguntando-me o que valeu a pena, o que foi absurdo, o que devia ter sido diferente. Respostas não oiço, culpas não sinto, uma ou outra vez o desencanto de não ter compreendido a tempo, falhado a ocasião, ou sido incapaz de ver claro.

 

terça-feira, maio 6

Pedir licença?

Vai ter de pedir licença quem quiser "entrar" aqui?

Não. Essa é exigência dos muito chic, enquanto este blog é de todos, como a praça pública.

domingo, abril 27

Perguntas e respostas

 

Por cortesia, mas também curiosidade, fiz eu ao amigo que há tempos não via, as perguntas clássicas sobre a saúde, a família, as andanças, a disposição.

Respondeu ele a tudo pela positiva, acenei o meu agrado, foi então que me veio à memória a simpática e brilhante filha única que tem, e a curiosidade de perguntar se era oportuno saber se já havia namoro e, caso assim fosse, que opinião tinha ele do futuro genro.

 

A resposta veio sorridente, franca, moderna no conteúdo, mas se posso dizer que não me deixou de boca aberta e pernas para o ar – no Google procurei o significado de poliamor - tive alguma dificuldade em esconder a surpresa da revelação. É que embora me queira mostrar modernaço, não consigo abstrair da consequência das décadas que já vivi, influenciado por ideias e princípios tão distantes, que se os comparo já nem exóticos parecem, antes medievais.

Porém, como este é o mundo em que me encontro, e à vida social ninguém escapa, o remédio é aceitar. Foi nessa pacífica disposição que, algum tempo depois, recebi o pedido de Catarina.

Simpática, a meio dos trinta, vida desafogada, embora com sobra de relações e amizades não conseguia encontrar forma para o seu pé. Só que quando a encontrou – foi mesmo paixão – o cavalheiro a tinha surpreendido com uma exigência: por nada deste mundo deixaria a mulher e os pequenitos. De modo que era aceitar a três ou largar.

Catarina aceitou, e como a esposa do cujo “virava dos dois lados” – assim se dizia em tempos idos – tinham passado uns quantos meses de paixão. Por má sorte, tudo findaria na tarde em que o Jorge, cinco anos mas esperto quebra-louças, puxando-a para si e falando ao ouvido, lhe revelara um segredo. Tão assustador esse, que no mesmo instante tinha deitado a fugir.

 

PS. Passados uns oito anos escrever semanalmente estes textos para o Correio da Manhã, chegou a hora de parar. Grato aos que os leram no CM e aqui.  

No que respeita este blog, velhinho de dezoito anos, pode ser que de um dia para o outro feche por razões várias, entre elas o sentimento de que o autor escreve com um vocabulário e num estilo há muito ultrapassados pela modernidade dos que dispensam artigos definidos e tudo conseguem "alavancar". Que o Senhor os ajude, e a nós também.

 

 

sexta-feira, abril 25

Estranho sentimento

Estranho sentimento, o de súbito perder a quase centenária vontade de escrever, como se o comunicar com estranhos que faço aqui há quase duas décadas, me pareça agora tolice, uma intromissão na vida alheia, quase a modos da bacoquice que, dizem, vai de par com a demasia de anos vividos e perdidos.

domingo, abril 13

Travessuras da memória

 

Facto é que para minha surpresa, e por vezes a dos que me conhecem, a memória ainda não dá excessivas razões de queixa ou alarme. Isso mesmo quando lhe peço que me recorde o nome de uma estrela do cinema alemão dos anos quarenta, o título de um filme italiano clássico ou, em desafio, me traga à lembrança o nome e as qualidades do personagem principal de Cem anos de solidão, o romance de Gabriel Garcia Marquez.

De uma maneira ou doutra, questão de sorte na lotaria da genética, puro acaso, ou talvez resultado de que, nos alimentos minha longínqua infância e juventude, o superfosfato da CUF era a única mixórdia química que adubava os campos.  Nesse antigamente, o trigo, o centeio, a aveia, o milho, as batatas, fruta, hortaliça, tudo se semeava e crescia em campos que, saudável e naturalmente, eram  adubados com o fermento do esterco animal e humano.

Não se vá pensar, todavia, que estou alegremente a bater no peito, inchado de segurança, pois não me faltam momentos de susto, ou até verdadeiro pânico como – felizmente espaçados – ver-me de súbito a apertar a mão de um conhecido, sentir-me incapaz de recordar o seu nome e, na vã tentativa de ocultar o doloroso embaraço, embrulhar-me num diálogo sem pés nem cabeça, a fazer observações que lhe parecerão disparatadas, mas são apenas a cortina de fumo a esconder o torvelinho que nesse instante me assalta o cérebro.

Assim, pois, se tenho algum motivo para me felicitar pelo razoável funcionamento da caixa cerebral que armazena os dados, não perco de vista a realidade de que, de um momento para o seguinte, basta um diminuto nada, um átomo destrambelhado que mude de lugar, e então segurança, satisfação, certezas,  calma, horas de paz, vai tudo água abaixo.