O queixume dos betinhos
Vamos lá então meter também a colher no assunto, se
bem que o mesmo, devido à velocidade a que tudo actualmente muda, possa já
cheirar a requentado.
Como todos sabemos, e estou certo que mesmo entre os Tuaregues
se discutiu a notícia, um senhor Weinstein teve a má sorte de que, quando menos
o esperava, se tornasse público o que antes era corrente na indústria do cinema
e, recuando no tempo, vem acontecendo naquelas ocasiões em que o homem abusa de
uma situação de poder e a mulher é violada ou, submissa, cede na perspectiva de
um benefício.
Depois de Weinstein, que molestava as mulheres que
dele dependiam, foi a vez do actor Kevin Spacey que molestava rapazes, e viveu
o momento supremo de na cerimónia do
Prémio Nobel da Paz em 2007, ter apalpado as partes do então marido da Princesa
Martha Louise da Noruega.
Seguiu-se um não acabar de casos e tão excessiva barulheira
que, dum modo e doutro, queiramos ou não, todos vamos ficando ao corrente. Testemunhámos
depois o luto consolado das virtuosas na entrega dos Globos de Ouro, Oprah
Winfrey apanhou a onda, quer-se candidatar à presidência dos Estados Unidos, e como inevitavelmente tinha de acontecer, pois
é lei da Natureza que a acção provoque reacção, umas tantas mulheres, seguindo
a idosa Catherine Deneuve, vieram defender o direito ao namoro, ao flirt, às
quase infinitas variações da dança ritual que, desde que há humanos, precede a
cópula.
Contando do instante em que me dou a estas
considerações, até que as mesmas sejam lidas na DOMINGO, é provável que novos
escândalos e outras modalidades dos anteriores nos ocupem. Todavia, o que agora
me interessa é o dilema que me puseram os meus netos, uma rapariga de vinte e
três e um rapaz de vinte e um, ela a findar Biologia, ele em Direito.
Sabendo-me nascido e criado num tempo que, com razão
de sobra, lhes parece de costumes e situações pré-históricas, vieram pedir-me
que tomasse posição na controvérsia e decidisse qual deles me parece ter razão.
A neta subscreve os argumentos de Catherine Deneuve: é
alegremente pelo flirt, o namoro e as
manobras à antiga, enquanto que o rapaz se mostra fanático do #metoo. Para ele
as demissões, a perda do emprego e o ostracismo social sabem a pouco, acha que deverá
ser sentença exemplar com largos anos de cadeia.
Ficaram murchos ao ouvir que por enquanto não tomo
partido, e reservo o meu juízo até que chegue um queixume que não deve tardar: o
dos betinhos a quem as chefes e as patroas obrigaram a ir para a cama.