Já gostei mais de voar, talvez porque o fiz inúmeras vezes no tempo em que era luxo. Mas ainda gosto. A rapidez compensa do desconforto, dos apertos, da comida plástica e dos odores do vizinho. Experiências desagradáveis tenho só duas: um louco convidou-me a voar sobre São Paulo num biplano antigo e, às gargalhadas, começou a fazer loopings e vrilles na esperança de que eu borrasse as calças. Não borrei. A outra aconteceu algures na Amazónia, quando o avião caiu num poço de ar de centenas (ou seriam só dezenas?) de metros. Inesquecível.
A contrapor à modéstia das minhas vivências aéreas está o mirabolante reportório de um amigo que viaja muito pelo Oriente. Ele são daquelas cenas que às tantas me pergunto se não há por ali excesso de imaginação. Pneus desparafusados, lemes tortos, aillerons defeituosos, querosene no fim, excesso de carga, portas abertas, buracos na carlinga... Foi esse mesmo amigo que há dias me chamou a atenção para duas notícias que não tinha visto.
Em Junho do ano passado os dois pilotos de um Boeing de Air India adormeceram ambos, passaram o aeroporto de Mumbai onde deveriam aterrar, e só quando sobrevoavam Goa é que a torre de controle os conseguiu acordar.
À segunda acho ainda mais graça: na semana passada, devido a uns apalpões menos discretos a uma hospedeira de bordo, os pilotos e o pessoal de cabine desataram ao soco no cockpit. Talvez por falta de espaço, e para espanto e susto da centena de passageiros, continuaram aquilo no corredor ainda uns dez minutos.
Não está nos meus planos viajar longe, mas uma coisa sei de certeza: com Air India não arrisco.