Na adolescência é uma inocente pedantice o inventar palavras. Recordo que no tempo do liceu, se qualquer assunto nos parecia complicado em demasia, pregava-se-lhe o qualificativo de semiscarunfiscotético (não procure no Google, que não está). Se por qualquer razão se mencionava o DDT, então produto milagroso, havia sempre um que preferia dizer diclorodifeniltricloroetano, o que nos parecia um malabarismo verbal topo de gama. Ácido acetilsalicílico também tinha mais cachet que aspirina.
Vem isto a propósito do brilhante colunista holandês Simon Carmigelt (1913-1987) que, com os copos ou totalmente encharcado, nunca sem eles, escreveu durante dezenas de anos uma coluna diária no jornal holandês Het Parool.
Homem de escrita brilhante, indivíduo de humor azedo, a ele se deve a criação do verbo epibrieren, que me arrisco a traduzir por epibrar. Destituído de significado, aplica-se como e quando se quer, é usado em geral para dar uma importância e seriedade de fingimento. Assim o chefe pode dizer ao subordinado: ó Silva, não se esqueça de epibrar isso antes de meio-dia, e este desculpar-se de um atraso dizendo que ainda tinha de epibrar umas coisas, ou que só amanhã é que tem tempo para epibrar as actas.
Daqui a nada vou-me longe, para lá do Marão, a uma festa de aniversário, mas antes de sair ainda tenho muito que epibrar.