Bragança. Domingo de autárquicas. Tarde de sol. Muita gente na esplanada. Os olhos seguem a mulher que vem do outro lado da rua, empurrando um carrinho de bebé, uma menina pela mão. Modo desenvolto, corpo bem feito, lindas pernas, saia curta, terá vinte e poucos anos, vemo-la curvar-se no esforço de pôr o carrinho no passeio, passa à nossa frente e vai a caminho da praça.
Ele debruça-se para mim a sussurrar:
- Brasileira. Trabalhava aí no alterne e esteve no café do Cavalinho. Depois casou com um gajo que tem um negócio de pneus. Dizem que na cama!...
Apinha os dedos contra os lábios e faz um chilreio, dos que estão perto alguns ouviram, sorriem, acenam que sim.
Faço cara de desentendido, a esconder que me desagrada o comentário, e antes de me dar conta estou a imaginar aquele corpanzil a copular. Imagino a D. Rosa (que não se chama D. Rosa) por baixo ou por cima, de joelhos. Vejo-o a ele num dos bordéis de Zamora aonde vai aos fins-de-semana, pançudo, desajeitado, impotente com os copos e sem eles, à procura duma brasileira boa na cama.
Vem-me a lembrança de um texto de Miguel Torga, creio que no seu "Diário", em que descreve a horrível, desastrada e nojenta cópula de dois camelos que observou em Marrocos. E as comparações que faz com a dos humanos.
De facto é recomendável que certos actos sejam secretos, ocorram no escuro e não sofram comentário, pois doutro modo põe-se a gente a magicar e forma do próximo estranhas imagens.