sexta-feira, junho 19

Que fizestes?


Que fizestes, homens e mulheres de quarenta cinquenta anos, vós que ao nascer recebestes um país livre, renovado, sem censura nem perseguições, com esperança e dinheiro como não se tinha visto desde D. João V? Que mudanças e avanços podeis mostrar na Política, nas Artes, na Cultura? Que sentis se por acaso vedes os deputados da vossa idade num debate do Parlamento? Que vos parecem os feitos dos que chegaram a ministro? Que podeis mostrar do que aprendestes e aproveitastes do Programa Erasmus? Por que razão não vos vejo inquietos, revoltados, insubordinados, furiosos, descontentes, mas indiferentes e apáticos? Desinteressados, olhando de lado para não ver, fazendo de conta, submetendo-vos ao que vos impõem os manhosos e os habilidosos, os malabaristas que acham sempre pouca a esmola mas não se envergonham de a receber, como se para um país a caridade possa ser um honroso modo de vida.
Vós, homens e mulheres de quarenta anos e cinquenta anos, não vos podeis queixar dos vossos pais nem dos vossos avós e pergunto-me que exemplo dais aos vossos filhos. Julguei que vos veria diferentes mas ides pelo mesmo triste caminho de submissão, de aceitação, de resmungos e maldizer, do queixume, mantendes a fé na cunha e no jeito, dais ideia de que os direitos do cidadão não são princípios fundamentais, mas palavras num papel e não vos dizem respeito. 

Este desabafo é o que é: a egoísta e inútil tentativa de baixar uma pressão que em mim vive e só a mim diz respeito, dolorosa porque sonhei um país melhor, tive esperança de que o veria realizado e tudo me diz que foi esperança vã.